Panorama: Fazendo parte da rotina do Mercado São Sebastião.

terça-feira, 21 de maio de 2013

Fazendo parte da rotina do Mercado São Sebastião.


Nas manchetes dos jornais o Mercado São Sebastião tem muitas histórias interessantes em mais de um século e meio de existência.



História

            A Praça São Sebastião já foi palco dos circos Nerino, Thiany e Garcia e espaço também de peladas de futebol.
O mercado, que hoje é administrado pela Sincofrutas, conforme o disposto na Lei Municipal nº 8.072/97, responsável por sua limpeza, segurança e organização, era anteriormente chamado de Mercado de Ferro, foi construído em 1897. A estrutura de ferro foi importada da Inglaterra e fabricada na França, em estilo Art Noveau. Era localizado na antiga Praça José de Alencar, foi desmontado, e remontado em parte no que é hoje o Mercado dos Pinhões, outra parte, foi em 1937 para o espaço conhecido como Paula Pessoa, ganhou parte da estrutura desmontada do Mercado de Ferro da Praça José de Alencar.
            O mercado existe há 152 anos, antes de vim para o local atual, era uma feira na Barra do Ceará, segundo conta Júlio Saraiva Leão, 61, dono de um box de frutas e verduras há 29 anos trabalhando no São Sebastião.
Júlio Saraiva

            A última grande reforma no mercado, foi em 1997 feita pelo então Prefeito Juraci Magalhães, o arquiteto responsável foi Fausto Nilo, na reforma foi ampliado à capacidade do espaço e hoje já conta com 440 boxes. Se antes eram somente frutas, verduras e carnes como carro chefe de produtos, hoje existem outras variedades.

A variedade dos boxes

  O Mercado São Sebastião que se localiza entre as ruas Meton de Alencar, Teresa Cristina, General Clarindo de Queiroz (onde também se localiza o Sesc) e a avenida Padre Ibiapina, próximo à avenida Duque de Caxias. Funciona de segunda a sábado de 07h Às 19 h e domingo de 7h à 12h e tem artesanato, plásticos descartáveis, raízes, castanhas, ferragens, material elétrico, hidráulico e de construção. Além de lanchonetes, farmácia e o estacionamento no subsolo e no setor térreo para carros e outro para motos.
            Um desses estabelecimentos faz sucesso todos os dias da semana, é o ponto de encontro de várias famílias. O restaurante São Francisco é uma tradição, passado de mãe para filha. Dona Neusa, “rainha da buxada” se aposentou e deixou sua filha Maria Vicente de Oliveira, 47 anos e hoje já está há 15 anos no ramo.
Maria Vicente

Dentro do Polo Gastronômico localizado no mercado, o restaurante é famoso. Tem gente que frequenta ele há muito tempo, veio primeiro com a namorada, depois casados, vieram os filhos e hoje vêm os netos.
            Josmar Freitas, 65 aposentado do Banco do Brasil, vem de Horizonte para provar as comidas típicas, “como língua de boi, carne de porco, panelada o que tiver gostoso eu como”, disse enquanto degustava o seu almoço de domingo.
            Maria Vicente oferece aos seus clientes, além do caldo de mocotó, para curar a ressaca, o prato “cabeça de carneiro”, um prato exótico, conhecido como Viagra Natural. Por ser um “prato nojento” virou documentário da Discovery, se orgulha sua proprietária.

Os personagens

            Quem frequenta o Mercado São Sebastião consegue rapidamente fazer amizades, pois esta num lugar acolhedor. Consuelo Cavalcante Silva, 65 anos, empresaria relata que além das amizades, pode comprar tudo que procura, seja frutas, cereais. “aqui é até melhor que os mercantis”, diz enquanto escuta o bom som de Chico Anizio, 46 anos.
            Tocador de velha sanfona comprada ainda por 150 cruzeiros, sempre esta aos sábados e domingos no Mercado São Sebastião, Chico veio de Itapiuna, ainda menino e é deficiente visual, o que não lhe impede de ganhar seu pão honestamente naquele espaço.

Chico Anizio from carlosemanuel on Vimeo.

Outra figura interessante é o Júlio Saraiva, que é Vice-Presidente do sindicato do Mercado São Sebastião e ainda por cima, tem um boxe é radialista, ator do quadro Brega City do Clube do Brega da TV Diário, além de já ter servido o Ex-Presidente JK e o Vice-Presidente Norte-americano Ronald Reagan.” Sei gastronomia oriental, francesa, faço vários pratos japoneses, trabalhei como açougueiro nas casas da banha no Rio de Janeiro, fui criado com angu e tabefe” diz todo orgulhoso.
Vicente Lopes


Outras Profissões

            Nem só quem trabalha nos boxes do São Sebastião, tira lucro dele, temos ao seu redor os serviços que ajudam como auxilio. Têm os vendedores ambulantes de café e chá, jogos de azar, o milho, o sebo de livros que fica na Praça Paula Pessoa ao lado do Mercado.
            Agora quem mais fatura nesse setor paralelo são os taxistas, um exemplo é Gonçalo Santiago, 71 anos, acostumado a pegar passageiros que fazem suas compras no mercado. Apesar de ter sustentado esses anos todos os seus onze filhos com esse trabalho, ele fala do susto que teve na sua profissão. “uma vez um rapaz me pegou na Crasa e me assaltou com a faquinha de mesa. O ladrão me perguntou tio você que me furar? Tio você que seu dinheiro de volta? Eu disse não, ainda ofereci carona a ele porque é perigoso onde ele desceu”.
Ponto de táxi, Mercado São Sebastião

            O serviço de táxi funciona com uma organização dos próprios taxistas. Eles escolheram dois deles para fiscalizar o trabalho. Todo dia são distribuídas as senhas para eles. Assim evita o problema de  correr atrás do cliente. Quem quebrar a regra fica suspenso de trabalhar por dois dias.



O Assalto rompe a tranquilidade

O dia 08/03, tinha tudo para ser um dia comum, como os outros dias para os trabalhadores e clientes do Mercado São Sebastião, mas um tiroteio já no fim da tarde interrompeu o ambiente tranquilo e deixou as poucas pessoas na fila da lotérica, dentro do próprio mercado, em pânico.
            O saldo do dia seria a morte de um vigilante e de um dos assaltantes, além de três pessoas feridas. Antônio Narciso, 59 anos e há 40 anos com uma banca de revistas e livros velhos, presenciou o “bang bang”.
            A banca “Tic Tac dos relógios” foi atingida com três tiros. Seu proprietário Manuel Barroso que na hora já tinha ido embora, comemorou ter escapado de levar um disparo. “um relógio de parede amorteceu os tiros” relembra.
Tic Tac dos relógios e as marcas de tiros

A rotina do lugar foi brutalmente modificada. Um dos meliantes passou o dia disfarçado como entregador de panfletos no centro do mercado, enquanto estudava a rotina dos comerciantes e seguranças do local, no fim da tarde, às 17 h, quando a maioria dos comerciantes e fregueses já havia deixado o mercado, dois bandidos encontravam-se ocultos entre os clientes da casa lotérica, que faziam fila para pagar suas contas pessoais.
Os assaltantes estavam em grupo de oito homens fortemente armados, estavam munidos até de uma submetralhadora, e eram bem organizados, pois estudaram o mercado e suas adjacências antes de agirem.
A transportadora de valores Corpvs, localizada na Avenida Luciano Carneiro, 2655, no bairro do Aeroporto, havia ido recolher o apurado do dia, quando, sem anunciar assalto algum, os marginais que estavam entre os clientes na fila, dispararam suas armas, um dos seguranças morreu no local. Seu nome era Carlos Henrique Nascimento Rodrigues. Conforme a comerciante Raquel Gaspar, 43 anos, comerciante da Bomboniere São Sebastião, “Temos dois policiais (PMs), dois da guarda civil e os fiscais. À tarde ficam só os dois policiais no mercado.”
Houve intensa troca de tiros entre seguranças, os dois PMs e os bandidos, um deles fugiu com um malote contendo o valor de R$ 55.130, 00. O assaltante trocou tiros com o RAIO e o pelotão de motopatrulhas do CPC e foi alvejado, correu por cerca de 300 metros e tombou sem vida na Rua General Clarindo de Queiroz. Além do dinheiro, com ele foi encontrada uma pistola Glock, de fabricação Austríaca, de calibre 9 mm, e uma ponto 45. O bandido foi identificado como Luis Thalysson Rodrigues de Oliveira, vulgo “Playboy”.
Os outros integrantes da quadrilha capturados foram Gutiélio Madeira da Silva, vulgo “Cachorrão”, Também foram presos meia hora depois do fato Lucas Martins Soares, Renato César Rodrigues Nunes e Rafael Costa Souza, todos acusados de latrocínio. Juscelino Costa da Fonseca, o “Celino”, e seu irmão Joelino Costa da Fonseca, o “Juca”, foram presos posteriormente ao assalto pela DRF (Delegacia de Roubos e Furtos) e pela COIN. Ambos fugitivos de uma das CPPLs e com envolvimento em assaltos a bancos e carros-fortes. 
Durante a ação os criminosos se desfizeram de várias armas, a submetralhadora Uzi 9 mm, de fabricação israelense, foi encontrada depois no Jardim do Beto no interior do mercado, uma pistola 9 mm e um revólver calibre 38 foram encontrados no calçadão do mercado, e havia também uma mochila recheada de pistolas que foi encontrada no setor das carnes.
Segundo Michel Aragão, 30 anos, guarda municipal, na páscoa aumentam os assaltos devido à grande demanda por peixes naquele período. Mas este foi o primeiro assalto com tamanho nível de violência e exposição na mídia.
Como declarou o microempresário Ivanildo Nascimento, de 28 anos, proprietário da Casa do Queijo, “Não me sinto seguro no mercado”. A loja de Ivanildo fica vizinha à casa lotérica assaltada, por pura sorte ele já havia ido embora durante a ação dos criminosos. Mais sorte ainda teve André Freitas, 35 anos, vendedor da Fermil – Material de Construção, pois ele e mais dois colegas atrasaram em fechar as portas naquele fim de tarde. Resolveram fechar justo na hora do assalto e tiveram tempo de se abrigar dentro do estabelecimento.
Um detalhe que chamou muito a atenção foi que durante a apuração desta reportagem, muitas pessoas se negaram a dar qualquer declaração sobre o assunto, talvez temendo represálias do crime organizado.



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Por Roberto Eduardo, Carlos Emanuel, Jardson Castro, Maria de Fátima José da Silva e Priscila Ramos

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